segunda-feira, abril 23, 2007

Sevilha

Sevilha, 18 de Abril de 2007

Estou em Sevilha em trabalho. Trabalho bom e leve. Apenas umas visitas técnicas sem stress e algum tempo livre. Cheguei ontem à noite e após os procedimentos de instalação no nosso hotel, saí com mais dois colegas para fazer o reconhecimento do local. Estava um calor anormal para aquela hora, de uma noite de Abril, mesmo para quem como eu, vive numa cidade do interior.
A primeira paragem foi numa esplanada numa praceta a poucos metros do hotel. A certa altura reparei que estava a ser descaradamente observado por uma rapariga, que não teria mais de 18 anitos. Ela estava também na esplanada acompanhada, penso eu, da sua família - pais e uma irmã - e pelo seu aspecto eram turistas de algum país da Europa do norte.

Um pouco depois vi que a moça comentava alguma coisa com a mãe e a partir daí comecei a ser observado por toda a família, sendo que o pai era o mais reservado.

Saímos da esplanada, em busca de outro tipo de movimento nocturno e o caso passou. Nunca mais me voltei a lembrar de tal coisa.

Hoje, após as visitas de trabalho, a maior parte do grupo resolveu ir à tourada. Não desgosto de touradas, mas estando em Sevilha, preferi rever a cidade a pagar um balúrdio por uma tourada. 37 euros ainda é dinheiro.

Podia ter combinado o passeio com algum dos colegas mas preferi andar sozinho. Comecei então por um jardim que começava ou acabava perto do hotel. Como já devem ter percebido, sou apaixonado por árvores e gosto sempre de conhecer os parques e jardins das cidades. Ia eu no meu caminho parque fora quando dou de caras com a família da esplanada da noite de ontem, sentados num pequeno muro de um canteiro. (Este mesmo).

A primeira a ver-me foi a mãe que logo e energicamente avisou a filha. Naquele instante trocaram-se olhares, os meus, sempre pelo canto do olho, envergonhado, tímido, atrapalhado e totalmente desorientado pelo insólito da situação. Não fui portanto capaz de enfrentar a situação e continuei o meu caminho sem olhar para trás até que ouvi uma delas dizer “Buenos dias”. Teria sido a altura certa para me virar e estabelecer o contacto, mas não. Em pânico, continuei o meu caminho tentando convencer-me a mim próprio a voltar a trás. Mas não fui capaz.

Claro que agora, aqui no quarto do hotel, duas horas depois martirizo-me por não ter sido capaz de os abordar e a minha curiosidade é imensa. O que quereria ela ou o que quereriam eles todos de mim?

Alimento a esperança de os reencontrar e preparo já o discurso em espanhol e inglês certo de que se houvesse uma segunda oportunidade não deixaria de a aproveitar. No entanto, numa cidade como Sevilha, encontrar uma mesma pessoa duas vezes é difícil. Três é muito pouco provável.

Acho que nunca vou saber o que queriam. Mais uma vez a minha estúpida e exagerada timidez deixa-me totalmente desarmado e incapaz de reagir e a angústia apodera-se de mim.

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