Durante a semana, começo logo com
uma vantagem. Acordo uma hora mais tarde. Existiu há bastante tempo, uma ordem
da Direção, para que os técnicos daqui do “tasco” (eu e o meu colega), um de
cada vez, começássemos a entrar às 8 horas, para controlar a entrada ao serviço,
do pessoal de campo. Eu cumpri a ordem, o meu colega nem por isso. Não sei se a
Direção já se esqueceu da ordem, mas eu continuava a estar no por aqui às 7:45.
Agora, à boleia com o meu colega, chego entre as 9 e as 9 e meia. É bom.
Entretanto, como tive tempo para
me preparar, arranjei uma mochila onde levo as coisas que é costume levar no
porta-luvas do carro. Óculos escuros, luvas, chaves daqui e dacolá, sacos de
compras, canetas, pen-drives, papelada diversa e um mini guarda-chuva, que já
me deu muito jeito um destes dias.
Saio, então de casa, de mochila
às costas e ando um bocadito a pé, o suficiente para facilitar a vida à minha
boleia. Depois, já no “tasco”, não há grande problema. Estamos numa fase do ano
tranquila e há sempre alguém para me conduzir sempre que preciso de ir a algum
lado (nem que seja a mulher da limpeza). Ao almoço, vou com o meu colega, mas
isso já fazia antes, uma vez um, uma vez o outro.
No regresso à cidade, há uma
pequena diferença. Eu que entrava sempre a horas, saía do “tasco”, cumprindo os
mesmos padrões de pontualidade. Já o meu colega, perde um bocado a noção das
horas e a maior parte dos dias saímos já perto das 5 e meia.
Por estranho que possa parecer,
sabe-me bem andar a pé pela cidade. Vejo gente, encontro pessoas conhecidas,
com quem troco algumas palavras e faz me bem apanhar este friozinho na cara.
Assim, dou por mim a arranjar motivos para pedir à minha boleia para me deixar
no meio da cidade e depois, aí vou eu, de mochila às costas, às compras ou
fazer outra coisa qualquer e sigo caminho, feliz da vida para casa.
Em casa pouco muda, claro, mas há
algumas exceções, como na semana passada, que tive que ir à noite a um velório.
Não me dei sequer ao trabalho de procurar boleia. Fui a pé. Vinte minutos para
lá e vinte minutos para cá. Não custou nada e até cheguei a casa revigorado
pelo frio e pela caminhada. Hoje, quero ir ver um concerto ao Cine-Teatro e
farei mais ou menos o mesmo trajeto. Eu gosto de andar a pé e sem calor até me
sabe bem. Enrijece os ossos.
Quanto aos fins-de-semana, ainda
só tive um e foi um pouco à experiencia. Fui, como costumo ir aos sábados,
almoçar ao fórum. No entanto, achei a caminhada grande para um almoço banal.
Amanhã logo vejo se repito a dose ou não. (Repeti. Apeteceu-me ver gente. Mas
para compensar a caminhada vinguei-me numa francesinha da Portugália).
De resto faço tudo o que me
apetece, dentro dos limites razoáveis da cidade. Se me apetece vou ao Pingo
Doce no centro. Não posso ir ao BricoMarché, ao MaxMat ou à Dechatlon, onde ia
com alguma frequência, não sei fazer bem o quê, mas sei que sempre poupo alguns
trocos com essa impossibilidade. Leio mais, vejo mais DVD’s de música e passo
mais tempo na net.
Portanto, sem dramas. É apenas
uma nova experiência na minha vida e não faço nada que muita gente, que não tem
carro ou carta, faz uma vida inteira.
Em conclusão, até quase acho que a vida ficou mais
animada e interessante. Tinha muito medo de sentir demasiado a falta de
liberdade que um carro nos dá, de me sentir preso a casa e aos outros, mas não
aconteceu. Até certo ponto, até me sinto mais livre e desprendido.